Boris nega demissão política e diz que Lula não governa
Ex-apresentador do telejornal da TV-Record, criador de bordões famosos, como “Vamos passar este País a limpo” e “Isso é uma vergonha”, o jornalista Boris Casoy rompeu o silêncio sobre a sua demissão da televisão. Numa entrevista ao jornalista Marcone Formiga, na revista “Brasília em Dia”, ele nega que sua degola tenha motivação política, mas nas entrelinhas deixa a entender justamente o contrário quando bate sem piedade no presidente Lula e no governo.
Boris diz, por exemplo, que Lula não governa, porque ainda vive sob a encarnação de sindicalista. Sobre o PT, diz que se transformou num partido qualquer. Quanto ao governo Lula, diz que dois fatores o assustam: a incompetência e a apetência para a corrupção. Quanto à provável reeleição de Lula, segundo atestam as pesquisas, o jornalista afirma que o presidente foi conquistá-la nos grotões, porque perdeu o voto de opinião. Veja abaixo alguns tópicos da entrevista selecionados pelo signatário deste blog:
Estabilidade dos cemitérios
Embora o País dê a impressão de estar em bases firmes, na verdade eu vejo o Brasil assentado em areia movediça. Se você fizer uma foto da situação brasileira, ela apresenta números de instabilidade. Mas, em termos dinâmicos, eu temo pelos próximos anos. Este governo conseguiu a estabilidade dos cemitérios.
Crescimento pífio
O presidente da República comemora 5%, enquanto alguns países que conhecemos muito bem, como a Argentina, crescem a números assustadores comparados ao Brasil. Eu gostaria que o País tivesse um crescimento que pudesse absorver essa mão-de-obra que grita por empregos.
Um partido qualquer
O PT se transformou em um partido como outro qualquer. O partido se diferenciava, até pela pretensão de ter o monopólio da ética e da moral. Terá enormes dificuldades de sobreviver.
Uma vergonha
São dois fatores que assustam: a incompetência e a apetência para a corrupção de alguns setores do governo. É assustador! Uma ver-go-nha! Sempre houve um nível de corrupção que nós, jornalistas, conhecemos, mas tão escancarada, como desta vez, nunca tivemos. Há gente que acha que foi a falta do exercício do poder que levou a esse tipo de corrupção primitiva, se é que se pode classificar assim. É feita sem a sofisticação dos bandidos modernos.
Lula não governa
Eu acho que Lula não tem vontade de administrar. Ele já delegou isso ao José Dirceu, agora é a ministra Dilma Rouseff ( chefe da Casa Civil ) quem comanda. Ele continua sendo, na Presidência da República, um líder sindical. Age como líder sindical, decide os embates que chegam a ele e se relaciona com o mundo como tal. Essa crença dele de resolver tudo no diálogo é uma característica das lideranças sindicais.
Frustração com o PT
O PT tinha virtudes. Ele oferecia um caminho novo e teve adesões. Era uma novidade no cenário. A impressão que eu sempre tive do PT foi a de que seria o grande partido trabalhista nacional, a representação de uma parte do pensamento nacional. Seria a versão tropical de um partido trabalhista britânico. Isso acabou não acontecendo.
Contradições ideológicas
É estranho que o presidente muitas vezes diga que não é de esquerda. Ele não se diz de esquerda, mas elogia Cuba; se diz democrata, mas elogia a Venezuela. Realmente, é uma grande salada ideológica, dá até a impressão que tem um liquidificador na cabeça.
O assistencialismo
O Lula acabou praticando a política assistencialista e com o seu discurso penetrando nos grotões do Fernando Collor. Agora, a análise é dominadores contra dominados, elite contra povo. Na verdade, só aqueles grotões desinformados que o PT afirmava ser à base do Collor. O Lula conquistou esses grotões. A retórica dele tem uma mensagem, e a ação assistencialista tem um resultado, que estamos vendo nas pesquisas, porque ele já não detém mais o voto de opinião.
Lula e as elites
Lula conseguiu demonstrar a uma parcela da população que é vítima das elites, o que não é verdade. Poucas vezes a elite esteve tão bem com o governo como agora. As elites estão satisfeitas. Se há um setor da sociedade que foi beneficiado foram os setores extremos das elites, que são os bancos. A ponta de lança das elites está com este governo, até porque teve lucros inimagináveis em outras situações.
Tratamento da Imprensa
Lula não tem do que reclamar. Poucos presidentes da República receberam a cobertura que ele recebeu. Pouquíssimos tiveram a unanimidade dos meios eletrônicos como ele tem. Mas ele se queixa da imprensa mais do que qualquer outro. O que ele gostaria é que a imprensa não tratasse de ética e moral, porque o PT “ensinou” a imprensa a tratar desses assuntos. O PT foi um exemplo de crítica ética e moral durante 20 anos. Por isso, ele gostaria que agora a imprensa fosse mais tolerante.
A saída da Record
Formalmente, não posso fazer nenhuma acusação ao Governo. Houve muitas queixas e pressões durante o período em que eu estive lá. O desenlace, segundo a Record, se deu porque eles queriam mudar o jornal. O senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) insiste que foi pressão pessoal do Lula. Ele, inclusive, falou isso na tribuna do Senado. Dizem, também, que foi pressão da Igreja Universal, em razão de um apoio que o Lula daria ao bispo Crivella nas eleições do Rio. Eu não tenho prova nenhuma, nenhuma, de que isso seja verdade. Assustar-me-ia muito se o bispo Edir Macedo, que conheci, fosse capaz de tamanha patifaria. Não acredito que ele tenha ido a esse extremo. Um dos diretores me chamou e disse: “Olha, resolvemos romper o contrato e vamos fazer um jornal totalmente diferente”. Foi essa a liturgia. Eu estou processando a Record na tentativa de receber a multa rescisória do meu contrato. Parte, por decisão do Judiciário, já foi paga, referente a 11 meses do contrato. Estamos discutindo os outros 37 meses. Dias antes da minha saída, me foi proposto que nós operássemos o jornal e fizéssemos algo parecido com o “Jornal Nacional”, o que eu realmente recusei. Era tido como um avanço, mas não vejo avanço em uma fórmula que existe há quase 50 anos.
Situação brasileira
O País vive um nó muito grave e não vejo competência neste governo para resolver isso. Não sei se um governo do Geraldo Alckmin resolveria também. Nenhum dos dois candidatos tem projetos para os próximos quatro anos. Têm apenas idéias vagas. Projetos não existem. Acho isso, perigosamente, desolador.