As maiores pintoras de Pernambuco
Da coluna de João Alberto
Tereza Costa Rêgo: Nasceu no Recife, em 1929, e começou a estudar pintura aos 15 anos, na Escola de Belas Artes. Sua primeira grande exposição foi em 1952, na Editora Nacional, quando assinava suas obras como Terezinha. No mesmo ano separou-se do primeiro marido, José Gondim Filho, e foi viver com Diógenes Arruda Câmara, dirigente do Partido Comunista do Brasil. O casal mudou-se para São Paulo, onde ela passou a trabalhar como paisagista. O marido foi preso e quando foi solto, o casal exilou-se no Chile, depois em Paris, onde ela continuou pintando com o pseudônimo de Joanna. Com a anistia, o casal voltou ao Brasil e Diógenes morreu pouco depois. Tereza então voltou a Pernambuco e foi morar em Olinda, onde abriu ateliê. Dirigiu o Museu Regional, o Museu do Estado e o Museu do Mamulengo. Dá nome a uma galeria do Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco.
Sua pintura retrata o imaginário popular pernambucano, com um estilo em que o escritor Ariano Suassuna identificou marcas do barroco e em que a própria artista confessa uma influência do espanhol Francisco Goya. O corpo da mulher é um dos seus temas constantes, assim como procissões, igrejas, santos, a paisagem de Olinda e Recife e os animais. Vítima de um AVC, morreu em 2020, deixando uma marca muito forte na pintura pernambucana. Ontem, foi inaugurada a exposição “Viva Tereza, Tereza Viva” no Museu do Estado, com seus quadros e lançado o livro “A Liberdade em Vermelho”, com reprodução das telas e depoimentos de João Câmara, Raimundo Carrero e Cida Pedrosa, entre outros.
Maria Carmen: Nasceu no Recife, em 1930, filha de um casal que marcou época na sociedade pernambucana, Carmita e Jorge Dantas Bastos, ele usineiro e dono da TSAP, uma fábrica de tecidos do Recife. Além de pintora, foi desenhista e escultora. Sua primeira exposição foi em 1961, na Galeria de Arte do Recife, que funcionava junto do rio Capibaribe, na Rua do Sol. Estudou pintura com Abelardo da Hora, José Cláudio e Welington Virgolino. Teve um ateliê em Londres e realizou mostras em Paris, Bruxelas e Lima. Trabalhou como desenhista e colorista da fábrica de tecidos do seu pai.
Seu ateliê, na Rua do Amparo, em Olinda, era ponto de encontro de artistas, em reuniões muito animadas, da quais participei algumas vezes. Em 1968, ilustrou a segunda edição de “Casa Grande e Senzala”, clássico de Gilberto Freyre, de quem era amiga. Pequena no tamanho, mas enorme na personalidade forte, deixou um belo trabalho. Morreu em 2014, aos 85 anos, vítima de AVC.
Guita Charifker: Nasceu em 1936 no Recife e brilhou também como pintora, gravadora e escultora. Foi aluna de Abelardo da Hora, Gilvan Samico e José Cláudio. Colaborou, em 1964, na fundação do Atelier da Ribeira, em Olinda, ao lado de João Câmara. Em 1966, criou e dirigiu a Galeria do Teatro Popular do Nordeste. Produziu desenhos de inspiração surrealista, associando formas humanas a animais e vegetais, realizados com precisão de detalhes, em obras de forte erotismo. Trabalhava de forma quase monocrômica, com traços tênues e manchas a bico-de-pena e aguada, revelando um universo onírico de formas simbólicas.
Passando por técnicas como a gravura em metal, encontrou seu principal meio de expressão na aquarela, com naturezas-mortas, com plantas e frutos regionais, explorando padrões decorativos obtidos a partir de folhagens e ramos de árvores, ou de objetos presentes na cena, como tapetes ou tecidos. Sua obra revela o interesse pela produção de Matisse. Nas aquarelas são frequentes também as paisagens, muitas inspiradas na exuberante vegetação do quintal de sua residência em Olinda ou nas localidades do litoral pernambucano. São constantes as cenas vistas através de uma janela ou em uma pintura na parede. Faleceu em 2017, deixando um belíssimo trabalho, presente em vários museus do país e em pinacotecas particulares.