O gênio do amor
A poesia sofreu um golpe, ontem. Com a morte de Thiago de Mello, o poeta da Amazônia, do verde, dos bichos e do animal homem também, a floresta emudeceu. Os pássaros amanheceram cantando choro. Era um dos mais celebrados artistas do verso solto, harmonioso, com o dom de embriagar e fazer chorar.
Poesia foi feita para os chorões. Só quem verte lágrimas lendo uma poesia manifesta a fortaleza poética do coração. Thiago brincava com as palavras. Dizia que quem não sonha o azul do voo perde o poder de pássaro. Ele rimava e filosofava ouvindo a natureza ditar as regras do seu improviso. Para ele, sonhar é cavalgar o sonho, inventando o chão para o sonho florescer.
Recorria a decretos poéticos. "Fica decretado que, a partir deste instante, haverá girassóis em todas as janelas, que os girassóis terão direito a abrir-se dentro da sombra; e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro, abertas para o verde onde cresce a esperança".
Também decretou: "Fica decretado que o homem não precisará nunca mais duvidar do homem. Que o homem confiará no homem, como a palmeira confia no vento; como o vento confia no ar; como o ar confia no campo azul do céu".
Os homens não são eternos, mas a poesia deles, quando faz a vida ter sentido, se eterniza. Nunca vou esquecer das tardes de sarau lendo e declamando Thiago de Mello. Como proclamou ao mundo, vale a pena não dormir para esperar a cor do mundo mudar. Antes de morrer, decretou: "Só uma coisa fica proibida: amar sem amor."
"Fica decretado que a maior dor sempre foi e será sempre não poder dar-se amor a quem se ama e saber que é a água que dá à planta o milagre da flor."
Que Deus receba com poesia o gênio do amor!