O Valor apurou que o presidente Jair Bolsonaro já consultou alguns senadores próximos, ao longo do fim de semana, sobre a possibilidade de se formar uma nova tropa de choque governista, como aconteceu na CPI da Covid. O principal obstáculo, no entanto, é que diversos parlamentares bolsonaristas irão disputar os governos de seus Estados e não têm condição de acumular as duas tarefas.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), vem adotando uma postura cuidadosa em relação à possibilidade de instalação de uma CPI. Ao mesmo tempo em que admitiu que a prisão por 24 horas na semana passada do ex-ministro Milton Ribeiro se trata de um “fato relevante” para a avaliação de instalação de uma CPI sobre possíveis ilegalidades no Ministério da Educação, o senador disse que isto não é “determinante”, lembrando que o momento pré-eleitoral pode atrapalhar a criação de um colegiado dedicado à investigação desses fatos.
Em 2021, Pacheco segurou a CPI da Covid por meses até ser constrangido a instalá-la por uma ordem do Supremo Tribunal Federal (STF). Mas desta vez, apesar da proximidade das eleições, a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito é vista cada vez mais como uma questão regimental.
A avaliação é de integrantes da cúpula do Senado, onde o pedido deve ser protocolado nos próximos dias. Segundo fontes, se o governo não conseguir retirar as assinaturas dos senadores e o noticiário continuar desfavorável para o governo e o Ministério da Educação, caberá a Pacheco apenas cumprir o regimento, dizem interlocutores.
Neste sentido, para contrabalançar o jogo político, é possível que Pacheco também dê andamento a algum dos pedidos de CPI protocolados pela base do governo. Isso porque a estratégia da base aliada é também pedir a instalação de uma série de CPIs como forma de inviabilizar o instrumento da oposição.
Algumas das CPIs pedidas pelos bolsonaristas já tramitam no Senado há tempos. São os casos da CPI das ONGs, protocolada pelo senador Plínio Valério (PSDB-AM); e da CPI do narcotráfico, protocolada pelo senador Eduardo Girão (Podemos-CE). O senador Carlos Portinho (RJ), líder do governo, conseguiu à época 28 assinaturas em apoio a um CPI para apurar problemas no Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).
Ontem o vice-presidente Hamilton Mourão classificou como “apressada” a prisão de Ribeiro. Na sua avaliação, o caso não deve atrapalhar a tentativa de reeleição de Bolsonaro.
“Eu julgo que não [prejudica]. Até porque ela [a prisão] durou pouco, foi algo, na minha visão, um tanto quanto apressada”, disse Mourão, em entrevista no Palácio do Planalto.
Para ele, os indícios de corrupção no MEC são “fracos”. O vice ponderou, no entanto, que é preciso aguardar o trabalho de investigação da Polícia Federal e do Ministério Público.
Questionado sobre a possibilidade de uma CPI no Senado para investigar o caso, o vice-presidente opinou que a comissão parlamentar não deve progredir porque “falta tempo” em função da proximidade das eleições de outubro.
No Judiciário, o caso teve um andamento processual discreto. A ministra Cármen Lúcia, do STF, enviou ontem ao procurador-geral da República, Augusto Aras, um pedido para que Bolsonaro seja investigado pelo suposto envolvimento no esquema de corrupção do Ministério da Educação.
O pedido no STF foi apresentado pelo líder do PT na Câmara, deputado Reginaldo Lopes (MG), que também alegou que Bolsonaro tentou interferir na operação da PF deflagrada contra o ex-ministro. Em uma ligação para a filha, Ribeiro disse ter sido comunicado por Bolsonaro sobre a possível realização de uma busca e apreensão contra ele.
Na sexta-feira, após o Ministério Público Federal (MPF) apontar indícios de vazamento da realização da operação por Bolsonaro, o caso foi enviado ao Supremo pelo juiz Renato Borelli, da 15ª Vara Federal de Brasília.
Na peça, porém, o deputado petista afirmou que “mesmo antes do aprofundamento das investigações pela Polícia Judiciária Federal (inquéritos instaurados na Polícia Federal e no Supremo Tribunal Federal), já havia materialidade e indícios suficientes de autoria das práticas criminosas no âmbito do Ministério da Educação, por intermédio do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, com participação ativa, quiçá com autorização expressa, do presidente da República”.