Coluna da sexta-feira
Coronel Danulo "otavianou"
Advogado bem-sucedido nas Alterosas, Cristiano Monteiro Machado foi prefeito de Belo Horizonte entre os anos de 1926-29. Nas eleições de 1950, lançou-se candidato à Presidência da República pelo Partido Social Democrático, mas este acabou apoiando Getúlio Vargas. Insistindo em candidatar-se, mesmo quando o apoio de seu partido era praticamente nulo, deu origem ao termo "cristianização".
Entrou para o folclore político por gerar uma situação em que o candidato é abandonado pelo seu próprio partido. Na época, o PSC apoiou outro nome de maior peso, Getúlio Vargas, eleito presidente da República. Cristiano ficou chupando o dedo. De lá para cá, toda vez que um candidato é jogado na jaula dos leões pelos seus próprios aliados diz-se, no jargão da política, que foi "cristianizado".
Há 30 anos, em 1992, nas eleições do Recife, houve um caso semelhante. Julgando-se forte, o ex-governador Joaquim Francisco inventou a candidatura a prefeito do ex-secretário Luiz Otávio Cavalcanti, sobrinho do ex-governador Roberto Magalhães. Sua base recebeu a indicação com a frieza de um inverno europeu. Mas Joaquim ignorou e abriu um comitê para Otávio.
Na semana seguinte, convocou um velho escudeiro ao seu gabinete e deu as instruções: a ordem era vigiar o comitê, passar por lá pelo menos três vezes ao dia para ver a movimentação. Cumpridor de tarefas, dois dias depois o emissário bateu à porta de Joaquim. Na maior expectativa, o governador perguntou: "E aí, como está o comitê?"
Cabisbaixo, o velho olheiro encarou Joaquim com os olhos aboticados e sapecou: "Tá ruim, governador. Tão ruim que nem Maria Gorda e Faca Cega dão as caras por lá". Os dois personagens citados eram famosos ratos de comitês. Por aí, dava para se ter ideia do deserto de apoios que o candidato escolhido por Joaquim estava tendo.
No dia seguinte, Joaquim trocou Luiz Otávio, o indecolável, pelo então jovem deputado André de Paula, que, mesmo assim, levou uma surra histórica para Jarbas Vasconcelos, eleito prefeito do Recife. Cristianizado, Otávio nunca mais quis saber de política. Pelo andar da carruagem, Pernambuco está prestes a criar um novo personagem do folclore político: a reprodução do "otavianismo".
E o candidato mais forte é se "otavianizar" é o Coronel Danulo, que vem perdendo apoios, congelou em 6% nas pesquisas de intenção de voto e seu escritório, apesar de encher a boca para dizer que tem o apoio de 140 prefeitos, vive às moscas. Se vivo fossem, nem Maria Gorda nem Faca Cega passariam por perto.
Confiança zero – Por falar no Coronel Danulo, o advogado Bruno Brennand, ex-tesoureiro do PSB, deixou o pré-candidato a governador da Frente Popular em maus lençóis. Em artigo no JC, disse, sem papas na língua, que o ex-governador Eduardo Campos não confiava em Danilo. Tem razão. Afinal, se fosse ao contrário, Eduardo teria escolhido Danilo para governador, mas preferiu Paulo Câmara.
Origem de apelido – Não era só Eduardo que não confiava em Danilo. O ex-presidente da Assembleia Legislativa, Guilherme Uchoa, e o ex-secretário de Articulação, Ettore Labanca, o odiavam. Tanto que foram a Eduardo "aconselhá-lo" a não escolher Danilo candidato. "Qualquer um, Eduardo, menos o Coronel Danulo", disse, na época, Uchoa. Foi a primeira vez que Eduardo ouviu a explicação do apelido, dada pelo próprio Uchoa: a troca do nilo pelo nulo era para carimbá-lo como uma nulidade política em atender demandas de aliados. É daqueles que só olham para o seu próprio umbigo.
Mais debandada – Aliado do deputado Eduardo da Fonte e filiado ao PP, que está na Frente Popular, o vice-prefeito de Arcoverde, Israel Rubis, disse, ontem, ao comunicador Nill Júnior, da Rádio Pajeú, que não apoia o candidato do PSB, Coronel Danulo, nem sob tortura. "Ele está com o prefeito de Arcoverde e eu não subo no mesmo palanque de um agora adversário político", afirmou.
Arraes voltou! – Está de volta a estátua de Miguel Arraes localizada no canteiro central em frente ao Aeroporto, próximo à Praça Ministro Salgado Filho, no bairro da Imbiribeira. O monumento havia sido recolhido pela Emlurb para passar por reparos por danos causados por vandalismo. A estátua, feita em bronze, foi instalada no final de 2008. Para denúncias de vandalismo e sugestões, a Emlurb disponibiliza o número 156.
Sem enxergar o bezerro – Se o PT bater mesmo o pé pela indicação de Carlos Veras para o Senado na chapa de Danulo, o que o governador fará para salvar o mandato do deputado André de Paula, que já teria até liberado alguns prefeitos da sua base? E se o PT se negar a acolher a indicação para a vice, como ficará a aliança com o PSB? A crise na Frente Popular está de vaca não reconhecer bezerro.
CURTAS
FORTALECIDA – O nome da senadora Simone Tebet (MDB-MS) ganha força entre partidos do centro político que se comprometeram a lançar uma candidatura única ao Palácio do Planalto neste ano. Além de arregimentar apoios formais de diretórios regionais emedebistas, ela passou a ser vista neste momento como a pré-candidatura mais “estável” da chamada terceira via por integrantes da cúpula e da bancada do PSDB.
CALENDÁRIO – MDB, PSDB e União Brasil definiram um calendário para buscar o consenso. Depois do lançamento de Luciano Bivar, pelo União Brasil, os dirigentes vão se reunir na próxima semana para discutir os critérios de escolha. O martelo só será batido, no entanto, no dia 18 de maio.
Perguntar não ofende: O PT pode implodir a Frente Popular?